segunda-feira, 17 de março de 2008

A última carta do Rei Capitoi Gates



(os insurgentes que tudo pretendiam)


por
Erahsto Feelício

Ao longe do fosso já se encontra uma multidão. Vossa organização é tão peculiar... tão singular, que para meus generais – e apenas para eles – mais parece uma desordem generalizada. Não há precisão em dizer se existem oficiais. Daqui todos parecem soldados. Ouvi dizer que se revoltaram, se rebelaram, e ainda não se sabem suas pretensões. De tudo os dei: festas, missas, possibilidade de ter bons cavalos, terras liberadas para o cultivo um dia na semana, e até poder para decidirem questões básicas sobre as vilas. Por que a revolta? Fiz questão de me certificar que ninguém da cidadela do castelo pudesse chegar perto demais deles. Pedi ao Reverendo Vladmir Socialé que fizesse algo, e no sermão da missa as sábias palavras eram sobre a luta contra os insanos infiéis adoradores do mal, pois somente assim poderíamos construir o paraíso celestial planejado por Deus. Portão fechado, arma em punho, na muralha só hão guerreiros brunidos. Mandei o Mensageiro, Lorde Giorgi Libertu, com a bandeira branca, para conhecer as reivindicações deles e seus termos de paz. Eles tomaram a bandeira branca e me mandaram uma negra. O Lorde disse-me que todos eles reivindicaram tudo. Pelos céus! Não posso entender! Como reivindicam tudo? Proibi há muito tempo essa palavra, ou qualquer que tenha significado de totalidade. Eles não conhecem tudo, apenas parte! Perguntei quem são eles, o Lorde me disse que são todos. Esse “todos” soou de forma unitária, como se não pudesse atender apenas a interesses específicos de cada aldeão, de cada vilão. Como minar suas forças? Todos os espiões enviados não voltam, mas diferente das outras vezes, eles não mandam a cabeça dos espiões em bandejas. Há quem diz ter visto um espião entre a multidão. O General Fragmentu Marinho não sabe o que fazer, não há como assassinar os líderes, não há como distingui-los dos demais, eles também não aceitam desafios dos melhores homens, pois todos se intitulam os melhores homens. Existe o cerco, apesar de eles oferecerem comida a todos que, desarmados, saírem da cidadela do castelo. Há festas todos os dias, não homenageiam os santos. São pagãos! Estive montado em meu alazão a uma pouca distância deles e não me fizeram uma, sequer, petição. Uns falavam em derrubar o castelo e usar as pedras para construir jardins, outros dizem que a coroa não é nada. Espantei-me quando falaram que a insurgência seria para sempre, mesmo que eu me rendesse. Loucos! Meu exército marchará, pela primeira vez, contra pessoas que não lutam por terra, nem mesmo por menos impostos. Lutarei contra quem não quer meu trono, minha coroa, minhas terras ou minhas filhas? Eles não querem o reino, parecem não reconhecê-lo. Meu exército não foi preparado para essa luta. A única infantaria que mandei foi recebida com músicas, gritos de guerras, mas mãos amigas. O meu Herdeiro, meu primogênito, Democraceau Inácio discursou contando a história vitoriosa do meu reino. Os rebeldes falaram de um tempo muito próximo quando iniciou a vida deles. Desde que soube dos levantes mandei exterminar todos, mas ninguém nunca sabia sobre os revoltosos. Num ato de desespero mandei um falso escrito real que passava as terras para as famílias do reino e as ferramentas para seus utilizadores. Negaram ou era como se tudo isso sempre fora assim. São arautos do caos contra a sociedade do trabalho e da moralidade. Não hei de ficar parado, numa ultima tentativa de salvar meu reino, os atacarei até minha morte, e em meu testamento passarei todo meu poder aos líderes insurgentes e minhas terras a todos eles. Rogo para que aceitem! Porém eles criticam tudo, a abundância e a miséria. Caso aceitem, salvarei meu reino. Deixarei o Estado e entrarei no tempo. Pelo menos se a negação de tudo deixar!


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