quinta-feira, 16 de outubro de 2008

OS MENINOS BRINCAM


Olhava filhotes de porcos criados nas ruas. Eles brincavam. Não apresentam sinais de sofrimento. Parecem rir. Disseram-me que até mesmo inimigos naturais podem brincar quando são ainda filhotes - seria o caso do leão com o veado.

A essência da criança é o sorriso. O riso é sempre a face da criança. Mesmo que o momento não seja o melhor.

Os meninos brincam
(Luís César Padilha)

Só morrendo para descansar.
Sua sede aumenta em frente ao mar.
O céu estrelado nega a chuva,
Mais uma beleza atroz.
E os meninos brincam na poeira.

Tem lodo na lágrima e no suor
E a pela marcada pelo sol.
A velhice precoce aparenta fraqueza,
Engano do olhar que despreza o que for essência.
Com pau, com pedra e muita coragem,
Não foge se tem que lutar.
E os meninos brincam de herói.

Estão cumprindo toda a sua sina
Desafiados pela própria vida.
Amam o solo que só é umedecido
Por sereno suor e lágrima,
Sem parar de cantar.
A fome e a sede, repete-se a história,
Continuam a castigar.
E os meninos continuam a brincar.

No Nordeste os heróis nascem com a agonia na rotina e com a superação nos músculos. Riem porque são heróis.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Para Márcia






por Luís César Padilha

A perda de alguém querido vem sempre acompanhada de muita reflexão. A saudade e o peso religioso da morte sempre nos atiram nos páramos das dúvidas. As forças que movem esse mundo ficam mais nítidas. As explicações se tornam mais óbvias. E tudo também pode ser o contrário.

Retornar ao final dos anos de 1980, de 1987 a 1989 para ser mais preciso, trouxe para meu convívio uma baixinha retada de olhos verdes expressivos e com uma habilidade para "resolver as coisas" invejável. Desde o primeiro contato, ela já se dizia jornalista e com precisão buscou sua escolha. Simulávamos situações comunicativas, eu, ela e Fariseu, três sonhadores, ou melhor, dois sonhadores e uma guerreira. Queríamos escrever bem. Márcia queria viver.

Autora dos aniversários do fim de semana, uniu a turma. Éramos em 1989 uma família muito bem comandada. Nossa matriarca me deu cinco aniversários em um só ano. E vivemos nas festinhas juvenis trocando sorrisos por piadas e curtindo os namoricos pueris de nosso tempo.
Aprendi a ler poesia. Consegui me ver poeta. Fariseu e Marcinha me fizeram acreditar na acessibilidade da criação artística. Eu que tinha em Renato Russo o máximo da expressão poética, agora conhecia Caetano e Gil, além de acrescentar as cantorias e outras vanguardas brasileiras em meu repertório.

Eu e Fariseu paramos na Faculdade de Letras da UCSal, enquanto Márcia foi direto à sua convicção: a Faculdade de Comunicação da UFBA. Rapidamente se estabeleceu no meio jornalístico soteropolitano, fazendo valer sua garra e sua segurança.

Depois da escola, em 1989, encontrei poucas vezes Márcia. Sempre a vi envolvida nos trabalhos regularmente. Foram quatro encontros talvez, mas em todos os encontros ela era a mesma amiga preocupada com todos, querendo rever todos.

Hoje, tentando descansar escutando as notícias de futebol, Mário Freitas, cronista da Rádio Excelsior da Bahia, me surpreende com a notícia do falecimento de Márcia Rodrigues, como que houvesse necessidade de me dizer. Não consegui mais dormi. Perguntei a mim mesmo se era ela. Fui ao único contato possível e, no orkut, ela já recebia mensagens de saudade.

Abrir as páginas do perfil de Márcia Rodrigues reflete o que ela foi.

http://www.orkut.com.br/Main#Scrapbook.aspx?rl=mo&uid=6828088171699189096

O melhor dela continua aqui.

Todos sabemos que ela não lerá, mas todas as mensagens traduzem a amiga, a matriarca. Para mim, o susto tinha que se transformar em homenagem. A passagem rápida dela por aqui merecia esta reverência.

Eu a reverencio.

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