quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Cinema

por Antonio Márcio


A noite se faz em graça
Enqüanto busco na poesia;
Brasileiros alegria;
O retrato de uma raça.

Na boemia doméstica
Noturno escrevo meu roteiro cinemático
Banhado pela estética
De teu solene beijo dramático.

E além de tudo,
Uma trilha sonora ecoa em minha mente
Deixando de lado a surdez
Que não ouve o onipotente.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

As Luzes dos vaga-lumes III


por Marcelo Silva


De onde vem a luz dos vaga-lumes? Porque eles piscam? Porque produzem luz sem esquentar? Perguntas como essas podem surgir o tempo inteiro quando observamos estes curiosos animais que são capazes de despertar muita fascinação. O processo de produção de luz em animais é chamado de bioluminescência e ocorre em alguns outros animais além dos vaga-lumes. Neste inseto a luz produzida é oriunda de uma reação bioquímica que libera energia em forma de fótons, chamamos este processo "oxidação biológica", que em resumo se constitui da transformação da energia química em energia luminosa sem a produção de calor, por isso é chamada de luz fria. Estas luzes produzidas podem variar um pouco de cor a depender da espécie de inseto, ela serve para fins reprodutivos, como facilitadores na atração sexual, bem como instrumento de defesa ou para atrair a caça.

“A produção de luz ”

Uma proteína chamada de luciferina, em contato com o oxigênio, é oxidada na presença de ATP (trifosfato de adenosina), ocorrendo assim a formação de uma molécula de oxiluciferina, que é uma molécula energizada. Quando esta molécula perde sua energia de exitação, ela passa a emitir luz. Essa luz é chamada de luz fria, pois cada elétron que retorna a sua órbita de mais baixa energia, libera a diferença energética em forma de luz e não de calor.

A energia liberada sob a forma de luz por bioluminescência pode ser calculada pela fórmula:

E = h . v (1)

V = c . λ (2)

Onde:

E = energia luminosa (KJ/mol de fótons)

h = constante de Planck

ν = freqüência

c = velocidade da luz

λ = comprimento de onda (nm).

A equação (1) evidencia o caráter quântico da produção. Ela diz que a energia carregada pela luz é proporcional a uma constante e só é emitida em termos de múltiplos dessa constante, ou seja: a luz não pode carregar qualquer energia, mas somente energias que são múltiplas de h (6,63.10-34 J.s). Esse valor, tão pequeno para essa constante, limita a nossa capacidade de observar fenômenos quânticos ao nosso redor.

A bioluminescência só ocorre na presença da luciferase, que é a enzima responsável pelo processo de oxidação. A molécula de luciferase é composta por uma seqüência de centenas de aminoácidos, o que determina a cor da luz emitida. Estima-se que para cada molécula de ATP consumida durante a reação, um fóton de luz é emitido. Logo é possível ter uma noção da quantidade de moléculas de ATP consumidas na respiração desse inseto baseado na quantidade de luz emitida.

Pode se configurar um avanço científico fazer com que bactérias que não são bioluminescentes passem a emitir luz, isso facilitaria o seu acompanhamento dentro de um organismo. Técnicas de genética estão sendo utilizadas para tal finalidade. Para isso, é necessário isolar e multiplicar os genes dos elementos presentes no organismo do vaga-lume, por exemplo, e inserir dentro da bactéria e esta passa a emitir luz como ocorre nos vaga-lumes.

Mesmo com tanta coisa interessante em relação aos vaga-lumes, eles estão sendo ameaçados essa ameaça é configurada pela a iluminação artificial, que pode interferir diretamente no processo de reprodução da espécie que podem sofrer perigo de extinção.

Referências

CHESMAN, Carlos – Física moderna: experimental e aplicada/ Carlos chesman, Carlos André, Augusto Macedo. 2ª Ed. Livraria da física, SP 2004.

NUSSEZVEIG, H. Moysés, Física Básica, 1ª Ed. vol-4 Editora Edgar Bulcher, São paulo 1998.

OLIVEIRA, Jarbas de- Biofísica para ciências biomédicas, 2ª Ed, Edpucrs, Porto Alegre 2004.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

As Luzes dos vaga-lumes II


(Marcelo Silva)


No instante posterior a sua formação, o universo conteria luz e partículas elementares...


Hoje é dia de ir ver a luz

O medo?
É, existe medo...
Pois, a minha companheira sombra me deseja.
Curioso é: Eu desejo a sombra, mas também desejo a luz.

Salto pelas Janelas e caio nos jardins
Junto às flores coloridas que não foram feitas para você
Nem você é para mim.
E a lua ainda é lua cheia
Quero sua luz que permeia as paredes
Que profetiza a dor e a sede
Reconhece o princípio e o fim.

Hoje decidi ver a luz
Mas ela virá até aqui
Mais rápido que qualquer pensamento
Maior que o mar e o vento
Somos Luzes de lua assim!


Caminho da roça

Caminhado na escuridão
Junto à cerca pra não perder o rumo
Passo
Tão efêmero
Passo
Tão curto
Laço
Tão bruto
Abraço
Peço
Acesso
Espaço.
Viajo a idéia bateu
Não paro nem vejo
Nem respondo ainda
Quem sou eu
Apagaram-se os últimos vaga-lumes.


A rosa do momento (é cor sem luz)

Perdi
Em um bosque escuro
O meu eu impuro
Que chamam de espírito.

Andei
Com tantas bolhas no pé,
Perdi também a fé
Em mim - só um delito.

Vi
A morte estava perto,
As árvores num cortejo funesto
Eu quase estive morto.

Acabei
Na lama da dúvida eterna
Sobre a sabedoria interna
Com sanguessugas lotando meu corpo.


O espetáculo

São os passos para o fundo do quintal
Onde as lágrimas festejam a fuga da prisão que é o corpo
E a liberdade é encontrada se vaporizando no ar.

Lá no fundo o brejo é frio e umedecido pela lágrima
Mas a alegria reina e começa o espetáculo
As rãs e cigarras fazem o fundo musical
Em sua dança os vaga-lumes pulsam como dedos apertados na porta
E saem de cena um a um, pela bengala da língua do sapo
Sem que haja um funeral.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

As Luzes dos vaga-lumes I

(Marcelo Silva)

Estava caminhando um dia desses por ai meio sem rumo, era um dia quente e, mesmo estando o sol baixo no céu, já próximo ao poente a temperatura do ambiente, tão mais alta que a temperatura do meu corpo, ainda incomodava. As ruas causam mesmo muito desconforto, tudo que a gente vê, ouve e sente deve mesmo nos incomodar, ainda assim acredito que as ruas com todos os incômodos devem ser um ambiente familiar ao individuo livre, desde que ele tenha um porto seguro para regressar, um local de refugio mental onde possa ter garantida sua dignidade, sua autonomia, existir quanto ser pensante e indivíduo autor dos rumos da sua história social. Essa característica do lar pode ser sua marca de humanidade. A relação entre a pessoa e a rua deve ser unilateral submissa ao controle da pessoa. Ninguém deve ter a rua como a única opção de sobrevivência, mas sim como uma opção de convívio social, de contato com o mundo, de organização e manifestação pública em benefício dos interesses comuns.

Sentei à sombra de uma árvore, em um meio fio recém pintado de cal - recentemente essa tem sido a obra de maior destaque realizada pelo poder público municipal - e comecei a refletir. Pensava quanto era cruel a subserviência sugerida (imposta) pelo grandes mecanismos de comunicação ao povo. As pessoas são convidadas a serem felizes, estando sempre iguais aos modelos de beleza, de não loucura, simpatia, popularidade, que no final das contas promovem uma escravidão sem correntes visíveis, logo difíceis de serem quebradas. As pessoas não percebem que só serão “felizes” se consumirem, se gastarem e se assistirem até o fim de suas vidas os Babacas, Burros e Bestas que existem por aí. Mas em debate comigo mesmo resolvi tomar as dores do opressor. E rebati meu pensamento da seguinte forma:

Não pode ser a mídia considerada a responsável pela trilha apocalíptica que caminha a passos largos. A humanidade, as pessoas escolhem os seus rumos. Quem assiste diariamente a quatro novelas e lê um livro a cada década, faz isso porque quer. Quem sofre mais ao ver o timão do coração ir pra a segunda divisão que ao ver uma criança suja passando fome na rua escolhe o que lhe incomoda mais. Quem escolhe passear no natal com a família no shopping e ver o Papai Noel com aquela roupinha polar distribuindo presentes para todas as crianças do mundo escolhe fazer isso.

Mas essas posturas louváveis não sofrem a influência apenas da mídia, mas de outras entidades, por exemplo a igreja (religiões institucionalizadas), a família (tradições sociais locais) construídas ao longo do tempo em um cabo de guerra tendo como característica uma corda com uma parte forte e outra fraca.

Isso aliviaria um pouco a responsabilidade da mídia. Afinal de contas assistir a novelas não é algo tão mal, existe muita ludicidade e fantasia em viajar sem sair do lugar em uma trama bem feita; o futebol é esporte e lazer, algo que interfere na qualidade de vida das pessoas, todos devem ter o direito de se emocionar com o esporte e praticá-lo; e o passeio em família é sempre bom, o sorriso de uma criança ao ganhar um presente é algo sem preço. As pessoas não precisariam da pressão dos meios de comunicação para quererem fazer algo que já seria bom para elas. Além do mais muita coisa popular entra na mídia porque se torna vontade do grande público, e ganhar espaço meio que ao contragosto das classes altas e “cultas”. Por exemplo ritmos musicais populares que nascem na periferia tipo: Calipso, Arrocha, etc. devem descer goela abaixo, causando náuseas no “bom gosto” das elites.

Já escurecia e eu ali embaixo da árvore e em cima do meio fio, olhava as pessoas voltando para casa, andando rapidamente sem olhar umas às outras, sem querer saber o que se passa com o outro sem dedicar um minuto de reflexão ao planeta onde tem suas raízes fincadas. Estas pessoas estão com suas bolsas, seus pudores e suas paranóias e não percebem que tudo isso é programado para desmobilizá-las. Não teria realmente problemas em assistir a novelas, se estas não fossem tão tendenciosas, antropocêntricas imprimindo os valores de uma cultura em detrimento de outras, fingindo uma interatividade entre a arte e o público, impedindo as pessoas de dialogar profundamente com o objeto de contemplação, não dialogamos com os periódicos globais, não discordamos nem concordamos, nem argumentamos ou construímos, pronto a questão é construção, se o povo gosta tanto de novela porque as pessoas não criam suas próprias novelas? Imagine como seria se você fosse na casa do seu vizinho para ler a novela que ele criou ou para mostrar a sua. No futebol, sim, as pessoas não apenas torcem para seus times, como elas jogam, mas o futebol tem muitos problemas, primeiro alimenta o sonho de muitos sobre a possibilidade de fama e dinheiro quando isso é uma realidade para poucos, também coloca em muitos casos a paixão pelo futebol que move uma indústria milionária para os torcedores como superior a outros valores de interesse coletivo. Quanto à miséria do Papai Noel, não se trata de não querer ver uma criança feliz, o grande problema está em associar a felicidade ao consumo, a compra desnecessária e desordenada gastando energia e recursos naturais que já estão fazendo falta ao planeta, e a natureza vai cobrar, isso para não falar das neuroses causadas na cabeça da maioria que não tem acesso nem se quer aos itens fundamentais para sua sobrevivência, imagine para uma extravagante comprinha de natal, fadados então pela lógica do sistema à infelicidade. Portanto não se pode atribuir ser feliz ao consumo.´as pessoas voltando para casa, andando ra

Mas as pessoas continuavam a passar e eu, corroído de raiva, de ódio, via vaga-lumes rodearem a minha cabeça. Não tenho raiva do povo, não posso ter raiva da plebe, mas posso ter raiva da globo e afins e principalmente dos poucos canalhas que sustentam seu luxo e sua pompa as custas da escravidão desse povo da degradação do planeta. Vi muitos vaga-lumes porque minha voz não ecoava, porque muitos camaradas que pensavam como eu sucumbiram ao cansaço, ao governo, ao poder. Mas anseio e trabalho por dias melhores, pois acredito que essas luzes de vaga-lumes possam ser mais que uma mera alucinação, fruto da minha indignação, acredito que elas possam ser uma luz de esperança!