quarta-feira, 29 de junho de 2011

Não tenho





Luís César Padilha


Como me defender do que não conheço? Foi o que seu pensamento perguntou à sua razão. Não há porque convidar a culpa para integrar seus instantes. Ele é a culpa. Ela destoa no baile. E qual a direção incerta, qual improviso correto? Quanto dele se esvai quando não responde a si? Ele cai, ela sai. É a solidão camuflada que a saudade rejeita. É a vibração de caos estendida no pesar. Quero apostar na felicidade, enquanto as cinzas não estiverem sob o tapete. Ele e ela se compensam. O destino cobra as multas. As vidas tecidas no amanhã recriminam as novas danças, porque ela destoa no baile. Ele é a culpa.


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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Construindo dramas


Luís César Padilha


E o oceano se fez vítima do rio, tentativa vã de adoçá-lo. Custou ao rio sua intimidade, o orgulho, a vaidade. Atirou-se inteiro no reservado oceano. Quisera alcançar de vez a profundidade, a beleza. O rio quis demais, insistiu demais. Negou-se a mudar de ideia e continuou rumando na mesma direção. Enquanto tiver força, o rio continuará com seu apelo repetitivo para ser parte do oceano. O oceano permaneceu com monossílabos, dissílabos, historinha ou outra e com seu salso inabalável. O rio, com seus dramas, provocou riso. O oceano é inalcançável demais para um rio.


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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Homem direção


Luís César Padilha


Eu esperei o sol durante a vida. Queria que ele visse meu olhar, minha admiração. Fui sua mão direita para escrever, esquerda pra tatear. Caminhei pisando forte com a perna esquerda, com ela afastei obstáculos. Indiquei curvas ladeiras esteiras escadas tapetes. Ao seu lado esquerdo. Destro que era, tilintava o alumínio com seus olhos agitados. E os olhos construíam mundos que eu não via, mas vivia em suas prosas. Os olhos que não enxergaram meu mundo. Fecharam. Não viram meu olhar... Eu espero o sol.


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