domingo, 2 de março de 2008

ESCUDOS


por Luís César Padilha

Escudos é um poema que compõe o meu livreto Luvas na sua página sete (número que povoa minhas poucas superstições). Surgiu em uma fase de esperanças e dúvidas, no meio dos estudos pré-vestibulares e das inseguranças que o capitalismo traz a essa etapa. A fase também era de elevação de auto-estima nas relações humanas e de busca por uma beleza, a fim de realizar as mais instintivas vontades e as mais emotivas.


Não havia lido tanto Sartre, nem Shakespeare, li A peste de Camus, mas alimentava meu desejo de auto-entendimento. O meio contrariava qualquer perspectiva de religiosidade pura, visto que o acesso ao capital exige individualismo. Nesse tempo, eu tinha um pensamento (e tenho) bastante cruel em relação à humanidade: "o que o dinheiro não compra improvisa".

Partindo desse lampejo filosófico, no poema Escudos eu falo de amor. Inicialmente, o supremo bem, incomensurável por certezas ou por pecúnia, é alvo de sutis mudanças em seus conceitos. Reflito sobre o peso dos sobrenomes (o título é uma referência aos brasões de famílias nobres) nas diversas escolhas, principalmente nas amorosas, refletindo o rancor diante de pequenas perspectivas, da seleção da sinceridade.

E a igualdade, que em minhas leituras políticas e religiosas é o grande objetivo a ser alcançado pela humanidade, só se enxerga na dor.

.....

Escudos


Parto

Limite é o quarto

Um dia cresço
E aprendo o terço

Rosto

Exposto ao gosto

O gosto é o preço

E o endereço


Salto

Do farto fato

De ter apreço

Se não mereço


Escuro

Contínuo muro

Quando enalteço
O que já esqueço


Corpo
Mediante ao morto

O corpo é o gesso

E o recomeço



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