sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Lapso de sortilégio


(Luís César Padilha)


Avisaram que a noite chegaria rápido. Pensou se viria a escuridão ou as estrelas. O baile era longo. Descortinou sua janela voltada para o futuro e não enxergava horizonte. Mesmo assim, começou seu caminhar em busca de um não sei o quê que nunca encontra e não pára de buscar. Aceitou e cumpriu a rotina. Seguia os passos de sempre e deparou-se com a pele morena, com os cabelos cacheados. Depois foi flor no jóia. A flor disse desde que. O jóia disse assim. Ela falou em luar. Ele insistia em números. E encaixaram seu olhares, vislumbraram enxovais e calcularam fins de semana. Sorria sentada; em pé, manquejava. Sorria sentado; em pé, desertava. Disse que a noite chegou rápido e não ouviu que os bons momentos faziam esquecer o tempo. Antes de retornar para a linha reta, passou pela festa. Distraiu-se com o tiro ao alvo da esquina. Engoliu litros de própria saliva. Ainda caminhou sem colher pedras pelos sapatos. Percebeu um x ao olhar pra trás e não pesou calcular. Contemplou mais uma vez sua janela sem horizonte. O poste em frente apagou.

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