sexta-feira, 13 de maio de 2011

Apenas uma noite



Luís César Padilha

Fez das tripas coração, do coração suor, do suor grana. Juntou seus centavos. Juntou seus trapos. O cansaço virou riso. As sentenças desafiam os atos. Andou calmamente até a bilheteria. Cravou seus pés no mesmo chão que nutriu seus anseios. A cena se renova e os personagens se confundem. O herói junta as armas, caminha, a pele se aproxima. Os cabelos. O olhar. O passado adolescente, presente adulto. Indecente. Aquele corpo cresce diante de si. A grana conquista o que o coração não conseguiu. E ele deita com a mulher amada. Vítimas, vivem o que desejam. Beijos... Carícias... Orgasmos... Antes apenas olhares, agora a vida inteira. Antes apenas desejo, agora amor. E foi a noite inteira. Seriam duas... três... quantas ambos quisessem, se tudo fosse o querer. Mas o raiar do dia denuncia o retorno. E a grana é só de uma noite. Uma porta se fecha, o ciúme escapa. A cabeça abaixa. Ela fica no night club, ele vai à oficina. Ela torce pelo próximo encontro. Ele acalma as tripas, o coração, até que a saudade aperte novamente. O valente anônimo beija seu conforto e pensa: a vida lhe cobra o que ele não consegue pagar. A decente puta lamenta as lágrimas e pensa: a vida lhe cobra o que ela não consegue pagar.

.