terça-feira, 17 de abril de 2012

Preconceito do vendedor de livros


por Marcelo Souza

Estávamos as duas, Jade e eu, preocupadas com as teses e testes que a vida impõe. A ideia de que as regras sempre mudam na minha vez, não saía da nossa cabeça. Por que é sólido dizer talvez? Por que é um passo em cada mês? E refrescar o planeta numa tigela é tomar mais de uma tigela de açaí, seja com granola, seja com morfina... pediria talvez duas ou três. Em um bar de burguês, um poeta se veste de vendedor, e oferece sua criação como mãe que vende a filha, e dá preço ao inestimável. Contudo outras são suas necessidades e as prestações batem à porta. Todos que estavam de chinelo e assanhados, como eu e Jade, não sofreram seu assédio. Não parecíamos rentáveis aos olhos do vendedor de livros. Apenas admirávamos a beleza do poeta vendedor de arte fabricada para vender. Não tentar nos vender um só livro pode ter sido um elogio da parte do poeta ambulante. Aos seus olhos, ou parecíamos ignorantes, ou pobres. Parecer ignorante, infelizmente, é parecer com povo, mas, felizmente, é ser diferente de elite e, embora sejamos cultas, fazemos questão de continuar sendo povo.

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