terça-feira, 27 de maio de 2008

Donana e os piratas


por Luís César Padilha

Uma conversa, uma sentença, uma angústia. Donana disse que na loja do marido dela não venderia meu cd porque ele é pirata. Pirata? Sou responsável pela perda financeira de compositores, músicos, cantores, advogados, funcionários do ECAD, grandes gravadoras? grandes gravadoras... leio e escuto a todo momento que pirataria é crime... sou criminoso, grandes gravadoras?

Componho desde o 17 anos, período que comecei minha relação amorosa com as cordas. De lá pra cá, tenho compostas mais de 50 músicas. É um número pequeno para os 18 anos que se passaram, mas se medirmos o tempo destinado a essa dedicação, veremos que fiz mágica. É que há 15 anos divido a música com a educação e quem trabalha em educação sabe o tempo que ela toma da gente.

Donana não quis fazer nenhum tipo de retaliação. Ela foi apenas a voz da fiscalização. Raras são as leis fiscais escritas com interesse de valorizar o homem comum. O alvo de benesses legislativas sempre foi a pecúnia. Nas artes, a pecúnia está com a burguesia, desde o Renascimento, e ela continua ditando estéticas. Quem resiste ao mercado, fica à margem, no "underground", divulgado em pequenos grupos, no meio que Lobão denominou "Universo Paralelo".

O cd da Parnaso da Modernidade saiu, gravado música a música, após 6 anos de divulgação "underground". As capas foram produzidas com papel metro e impressão em computador caseiro. Os encartes foram impressos com ajuda de uma gráfica amiga, a Gráfica Rochedo, como cortesia. A impressão no corpo do disco é feita com carimbo. Tudo para não depender de grandes corporações, para manter íntegra a proposta artística. Conseguimos colocar nosso cd na praça, para vender mais ou menos duzentas cópias, sem precisar ser moldado, sem reverenciar os burgueses.

Quanto à pirataria, Donana equivocou-se em seu conceito. Seria pirataria se eu estivesse me beneficiando financeiramente da criação de outro. Eu não utilizei nenhuma criação de outro, a não ser poemas de domínio público, com direitos autorais liberados. Mas a indústria da música deve estar se mobilizando para impedir que o mercado fonográfico se torne dependente dela. Com o poder financeiro, ela conseguirá.

Particularmente, eu gostaria muito que alguém resolvesse fazer cópias do cd da Parnaso e espalhasse pelo mundo. Essa frase pode ser lida como um pedido.

E torço para que Donana curta nosso cd. Queremos muito continuar produzindo nossa arte sem interferência da indústria cultural, dentro do nosso universo, vendendo de mão em mão. Enquanto originalidade significar se vender para as indústrias, seremos corsários... e amaremos Donana.

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